Imagine a situação de um município que, num gesto apressado e sem consulta a especialistas, decide construir um prédio público ao lado de uma nascente. Logo podem surgir infiltrações, o solo ceder, e as condições de trabalho se tornarem insalubres. O custo para reparar a estrutura pode superar o valor inicial da obra. Tudo isso pode ser evitado com um estudo de solo e a escolha adequada do local, sem falar em questões ambientais. O custo da improvisação recai sobre todos.
A falta de planejamento também se reflete em compras públicas equivocadas. Há casos de gestões que, em um momento de “entusiasmo administrativo”, adquirem quantidades desproporcionais de medicamentos, sem considerar a validade ou o real consumo. Meses depois, centenas de caixas são descartadas por terem vencido. É dinheiro público jogado no lixo, literalmente.
E por que esses erros acontecem? Em boa parte, pela inexistência de um setor de planejamento bem estruturado. Contudo, a origem mais profunda está na cultura de muitos gestores que não reconhecem a necessidade de planejar. Muitos acreditam que o setor público deve operar como uma extensão de suas vontades ou visões pessoais, ignorando a importância de consultar técnicos qualificados. Planejamento não é um luxo, é uma necessidade para a gestão.
Há gestores que, por inexperiência ou arrogância, insistem em decidir sozinhos. Um professor, por mais capacitado que seja, não pode ditar as prioridades de um hospital sem compreender as nuances do sistema de saúde. Da mesma forma, um médico não deveria assumir o planejamento de uma escola. Cada setor possui suas peculiaridades, suas demandas e, mais importante, suas soluções específicas. A interdisciplinaridade é o que garante a eficácia e a eficiência das ações.
A falta de humildade para reconhecer limitações é um dos grandes males de algumas gestões. Muitos gestores preferem se cercar de pessoas que reforcem suas opiniões ao invés de formar equipes técnicas que questionem, proponham soluções baseadas em evidências e, sobretudo, planejem. Quando as decisões públicas são baseadas apenas em impulsos ou em sonhos pessoais, as chances de fracasso são altíssimas. E, quando o fracasso ocorre afeta toda a população que depende dos serviços públicos.
Planejar é também um ato de respeito ao cidadão. Cada recurso gasto é fruto do trabalho de milhares de pessoas que pagam seus impostos e esperam que eles sejam utilizados de maneira racional e eficiente. Quando há planejamento, as ações públicas se tornam sustentáveis, os erros são minimizados, e os benefícios são amplificados. Mais do que isso: o planejamento cria um ciclo virtuoso de confiança entre a população e o governo.
Na gestão, independentemente de ser pública ou privada, não há espaço para improvisações ou amadorismos. Planejar não é sinônimo de lentidão, mas de sabedoria. Há uma frase atribuída a Benjamin Franklin que diz: “Ao falhar em se preparar, você está se preparando para falhar”. Que possamos aprender com os erros e construir um setor público pautado no planejamento, na responsabilidade e no respeito à população.
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