Nas redes sociais, onde a campanha já está a pleno vapor, vemos uma avalanche de promessas que, ao invés de remeterem à função de vereador, mais parecem planos de governo municipal. Muitos candidatos, por exemplo, se comprometem a pavimentar ruas, criar bolsas auxílio, contratar mais médicos, construir creches e escolas, ou mesmo ampliar o transporte coletivo. São propostas que, sem sombra de dúvida, encantam o eleitorado, mas que revelam uma falta de entendimento sobre as reais atribuições do cargo.
Vamos ser claros: o vereador não tem poder para realizar tais ações. Esses são atos administrativos exclusivos do poder executivo, ou seja, do prefeito. O verdadeiro papel de um vereador é legislar, fiscalizar e, com igual importância, auscultar a sociedade para identificar suas necessidades e elaborar indicações de políticas públicas ao executivo municipal. Isso significa propor, discutir e votar leis que sejam de competência municipal, acompanhar de perto as ações do executivo e garantir que o prefeito cumpra suas funções e gerencie o orçamento com responsabilidade.
No entanto, quando se observa o discurso da maioria desses candidatos, o que se vê é um descolamento quase total dessas funções. Um candidato a vereador deveria estar propondo fiscalizar a aplicação do dinheiro público, exigindo transparência e eficiência nos gastos com saúde, educação, segurança pública, urbanismo, entre outros. E, ao mesmo tempo, deveria ser um canal ativo entre a população e o executivo, elaborando e apresentando indicações que reflitam as reais demandas da comunidade. No entanto, o que mais se ouve são propostas de “vou trazer a escola que você precisa”, “vou asfaltar sua rua”, ou ainda “vou construir um novo posto de saúde”.
Há, evidentemente, uma enorme necessidade de modular o discurso desses candidatos, afinal, o que a população espera dos vereadores é que eles sejam fiscais do poder executivo, que cobrem eficiência dos prefeitos, e que também sejam representantes atentos às demandas populares, capazes de elaborar indicações eficazes para o executivo. Em outras palavras, as cidades não precisam de 10, 12, 14 ou mais “prefeitos” disfarçados de vereadores, mas de legisladores competentes e atuantes que cumpram com suas reais atribuições.
Esse cenário está longe de mudar. Com a proliferação de candidaturas e a pulverização de promessas mirabolantes, é provável que continuemos a assistir a essas práticas. O eleitor, por sua vez, fica à mercê de escolher entre propostas vazias e promessas inalcançáveis, sendo vítima de uma política que se retroalimenta de sua própria ineficácia. Cabe aos eleitores ficarem atentos e não se deixarem enganar por promessas grandiosas e irreais. Lembrem-se de que o papel do vereador é muito diferente, mas extremamente importante, e que é justamente na fiscalização, na boa legislação e na representação ativa das necessidades da sociedade que reside a força de um bom parlamentar.
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