O anúncio do crescimento do
PIB no primeiro trimestre de 2021 em 1,2% colocou os governistas em estado de
êxtase. O resultado foi muito bom, tanto que as expectativas de mercado quanto
ao crescimento da economia neste ano aumentaram dos 3,96% da semana passada
para 4,36% nesta semana. Há quem acredite que o crescimento acumulado no ano
possa chegar a 5,5%.
Porém, nem tudo são flores.
Não podemos nos entusiasmar e afirmar que o governo está conduzindo a política
econômica para viabilizar a retomada do crescimento sustentável. Ele está
fazendo algumas coisas que estão contribuindo para isto, mas poderia ter feito (e
estar fazendo) muito mais.
Afirmar que estamos operando
em níveis do período antes da pandemia é um erro metodológico. Os indicadores
não apontam para isto. Embora o crescimento no primeiro trimestre do ano seja
muito bom o acumulado nos últimos quatro trimestres apontam para uma queda do
nível de atividade em 3,8%. Portanto, ainda há muito para se recuperar. O que
impulsionou o crescimento no trimestre citado foi o investimento privado, que
cresceu 4,6% em relação ao trimestre anterior, e as exportações agrícolas que
impediram que nossa balança comercial fosse muito deficitária no período.
O grande combustível do PIB
sempre foi o consumo das famílias que, na média dos cinco anos que antecederam
a pandemia, representava 64,4% do PIB. Em 2020 caiu para 62,7% e no primeiro
trimestre de 2021 representou 60,2%. É evidente que a descontinuidade do
auxílio emergencial foi responsável por esta retração no consumo das famílias.
Se não ocorresse a interrupção o resultado poderia ser de um crescimento maior
no período. Demorou, mas retomou e este resultado será considerado no segundo
trimestre e garantirá um crescimento maior.
Mesmo assim não conseguiremos
retornar aos níveis pré-pandemia no curto prazo. Levará mais tempo para isto.
Se nossa economia crescer os 4,36% projetados pelo mercado financeiro
retornaremos ao nível de PIB real de dezembro de 2019, porém os demais
indicadores não retornarão. A análise não é tão simples assim.
Se ampliarmos o escopo da
análise desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, passando por Temer e
chegando em Bolsonaro, de 2014 a 2020 temos um encolhimento do PIB na ordem de
5,9%. Com o crescimento previsto para 2021 ainda teremos uma queda acumulada de
1,8%.
Na mesma linha a Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) projeta que o Brasil
levará 2,75 anos, ou seja, quase três anos para retornar ao PIB per capita real
igual aos níveis do quarto trimestre de 2019. Assim, podemos considerar que este
indicador será normalizado somente no final de 2022. Isto se não tivermos
nenhuma intercorrência.
O cuidado com a economia
inspira muita responsabilidade e atitude. Desta forma, podemos concluir que
nossa economia está retomando o crescimento econômico, sim. Porém, há muitas
coisas para além do crescimento. Temos que recuperar os empregos e a renda real
dos trabalhadores e tirar milhões de pessoas da extrema pobreza. E isto não
acontecerá sem uma forte atuação dos governos. Não basta ficar sentado à beira
do caminho. Ainda tem muita coisa a ser feita.
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