quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Superando a miopia governamental

Durante muitos anos, a busca pela expansão do setor industrial foi considerada essencial para o crescimento e desenvolvimento econômico. Os economistas cepalinos, vinculados à Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), formularam uma série de ideias e teorias influentes na metade do século XX, com um foco particular no progresso econômico da América Latina. Essas ideias e teorias enfatizavam a industrialização como um elemento crucial para o desenvolvimento econômico da região.

O setor industrial tem sido importante para a economia brasileira, tanto em termos de volume de produção quanto na geração de empregos. Em 1985, o setor industrial representava 31,8% dos empregos no país. Essa participação diminuiu para 23,5% em 2002 e para 21,5% em 2021. Quanto ao valor produzido pela indústria, observa-se uma redução em sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional: em 1995, o setor industrial correspondia a 27,0% do valor adicionado e a 23,4% do PIB; já em 2022, a participação do setor no valor adicionado caiu para 26,3%, enquanto sua contribuição para o PIB nacional caiu para 22,8%.

Devido à redução de sua participação na produção nacional, o governo federal lançou um pacote de estímulo para o setor industrial chamado Nova Indústria Brasil (NIB). Esse pacote representa uma política destinada a desenvolver o setor industrial até 2033, com foco em inovação e sustentabilidade. O plano inclui bilhões em financiamentos, abrangendo medidas como linhas de crédito especiais, subvenções, ações regulatórias e incentivos para o uso de conteúdo local. O governo espera que essas iniciativas melhorem a qualidade de vida das pessoas, promovam o desenvolvimento produtivo e tecnológico, aumentem a competitividade industrial e reforcem a presença internacional do Brasil.

As medidas anunciadas pelo governo para o setor industrial são não apenas oportunas, mas também essenciais. Existe uma clara necessidade de apoio ao avanço tecnológico neste setor, a fim de elevar a competitividade das empresas brasileiras. Tal apoio é fundamental para ampliar sua presença no mercado, tanto no âmbito interno quanto no internacional. Sem dúvida, essa estratégia será importante para nossa economia.

Entretanto, existe a expectativa de que a política anunciada gere mais emprego e renda no setor industrial, mas isso não ocorrerá de forma linear como pensam. Muitos segmentos industriais são intensivos em tecnologia, e, embora o aumento da atividade industrial traga benefícios para nossa economia e gere empregos, isso pode não ser suficiente para atenuar significativamente o nível de desemprego e de pobreza existente no país.

A iniciativa é louvável, mas é crucial que o governo também direcione maior atenção a outros setores da economia, visando incentivar o aumento da atividade econômica e, consequentemente, elevar os níveis de emprego e renda. Por exemplo, pessoas com mais de 50 anos enfrentam dificuldades para se manterem empregadas. Uma solução seria investir no setor de serviços intensivos em conhecimento.

Na Europa, já existe uma preocupação em desenvolver o setor de serviços intensivos em conhecimento, conhecido como setor quartenário, pois há a necessidade de aumentar a produção nacional e garantir empregos para pessoas experientes acima dos 50 anos. Outros países desenvolvidos também estão atentos a esta questão. É imprescindível que o governo federal supere sua miopia ideológica para poder abordar de forma mais ampla as necessidades de nossa sociedade.


0 comentários:

Postar um comentário