quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

A pobreza é real


Recentemente, enquanto lecionava uma disciplina intitulada “Distribuição de Renda, Desigualdade e Pobreza”, apresentei aos meus alunos alguns conceitos sobre pobreza e extrema pobreza e perguntei-lhes sobre suas percepções acerca do nível de pobreza em seus municípios. Para minha surpresa, alguns alunos relataram não acreditar na existência de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e sofrendo até mesmo com a privação de alimentos.

Diante desses relatos, solicitei que realizassem uma pesquisa simples nos bancos de dados sobre pobreza com o objetivo de encontrarem respostas para os questionamentos feitos. Mesmo diante dos resultados oficiais, que comprovavam a existência de pessoas em situação de pobreza e extrema pobreza, alguns alunos ainda permaneciam céticos.

O Banco Mundial possui um das maiores base de dados do mundo com diversos indicadores de pobreza. No entanto, esses dados são relativos aos países. Para obter dados locais, cada país deve contar com um órgão responsável por essas estatísticas. No Brasil, o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome é responsável pelo Cadastro Único, cuja principal atribuição é realizar o mapeamento das famílias de baixa renda.

Uma consulta rápida sobre o número de pessoas dos municípios mais populosos de nossa região presentes no Cadastro Único, revela a dimensão do problema social que enfrentamos, destacando a urgente necessidade de políticas públicas para mitigar tal situação. Dados de novembro de 2023 mostram que, nos municípios de Apucarana, Arapongas e Ivaiporã, aproximadamente 38% da população total está registrada no Cadastro Único. Esses municípios são seguidos por Jandaia do Sul, com 42,1%, Cambira, com 49,3%, e São João do Ivaí, com 56,2%.

Em média, 21% das pessoas desses municípios vivem em domicílios com renda familiar mensal de até um salário mínimo, o que, dependendo do número de integrantes, pode classificar essas famílias como pobres ou extremamente pobres. Segundo os parâmetros do Banco Mundial, a linha de pobreza é definida por uma renda per capita diária de US$ 5,50 em Paridade do Poder de Compra (PPC). Já a linha de extrema pobreza é estabelecida em US$ 1,90 PPC. Esses valores são utilizados para contextualizar a situação socioeconômica da população em um padrão internacional.

Outro indicador preocupante é o número de pessoas em situação de rua. De acordo com o Cadastro Único, o município de Apucarana, em termos proporcionais, possui mais pessoas em situação de rua do que Londrina, igualando-se a Maringá. Arapongas apresenta, proporcionalmente, um número próximo ao de Londrina. Esses dois municípios registram quase o dobro da proporção em comparação aos demais municípios da região.

É importante destacar o trabalho realizado pelos setores de assistência social dos municípios, pois, sem eles, estes indicadores poderiam ser ainda piores. A questão é extremamente complexa e exige uma discussão multidisciplinar. Um bom ponto de partida para esta temática seria debater sobre o crescimento e desenvolvimento econômico, focando na criação de mais oportunidades de emprego e no aumento da renda para a população.

Uma alternativa viável para amenizar esses problemas sociais é o desenvolvimento rural. A produção de alimentos representa uma forma contínua de geração de emprego e renda, sendo uma opção econômica e eficaz para melhorar os indicadores econômicos e sociais regionais. A pobreza é real e deve ser combatida com políticas públicas e com o envolvimento de toda a sociedade.


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