Na argumentação dos representantes das instituições que oferecem cursos à distância, destaca-se a necessidade de diferenciar os bons dos maus cursos, suspender aqueles de qualidade insuficiente e assegurar que a regulamentação seja debatida com as instituições, considerando os avanços tecnológicos recentes. No entanto, é fundamental que essa discussão seja ampliada para toda a sociedade, e não restrita apenas aos envolvidos com interesses diretos na preservação do “status quo”.
Além da discussão sobre os cursos EaD, é necessário abordar o ensino presencial ofertado, avaliando se sua oferta e conteúdo correspondem às expectativas e necessidades de todos os interessados, incluindo o setor produtivo, estudantes, pais e entidades governamentais ou financiadoras do ensino superior. O setor produtivo, em particular, deve explicitar quais habilidades e competências são necessárias, visto que absorve a maior parte dos indivíduos que buscam formação superior.
Ignorar as diversas variáveis envolvidas e concentrar-se apenas em algumas é adotar uma postura de militância, que pode ser útil para estimular o debate, mas não deve sobrepor-se à necessidade de uma evolução racional da nossa sociedade. É necessário também investigar as razões pelas quais muitos jovens não procuram o ensino superior, bem como entender os fatores que contribuem para a alta taxa de desistência observada no ensino superior brasileiro.
Segundo os indicadores de trajetória da educação superior de 2018 a 2022 divulgados pelo MEC, aproximadamente 54,2% dos estudantes que ingressaram no ensino superior brasileiro em 2018 desistiram até o ano de 2022. No Paraná, a taxa de desistência acumulada no mesmo período foi de 49,9% para o total e 42,5% para as instituições públicas. Essas estatísticas são cruciais para o debate sobre a necessidade de uma reforma abrangente do ensino superior que atenda às demandas da sociedade, não se limitando apenas à manutenção ou extinção de determinados cursos.
No contexto das instituições públicas, é importante considerar sua função social de oferecer cursos que não atraem o interesse das instituições privadas, mas que são necessários para a sociedade. O debate também deve incluir o financiamento público, tanto direto às instituições públicas quanto indireto às privadas. É importante ressaltar que a maior parte das pesquisas científicas no país ocorre em universidades públicas, levantando a questão da necessidade de incentivar as instituições privadas a intensificarem suas atividades de pesquisa.
À medida que enfrentamos desafios educacionais complexos e interesses antagônicos, é crucial que toda a sociedade se mobilize para fomentar um debate abrangente sobre o futuro do ensino superior. Não se trata apenas de uma questão para governos ou instituições, mas um imperativo para cada indivíduo e setor da economia. Ao unirmos forças para exigir qualidade e relevância, podemos garantir que o desenvolvimento educacional caminhe lado a lado com o progresso socioeconômico. A hora de agir é agora. Há a necessidade de se moldar uma nova educação superior.
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