No decorrer de quase oito meses desde a posse do novo governo, constatamos uma redução na pressão inflacionária, um vislumbre de crescimento na atividade econômica e um alívio no espectro do desemprego. Embora essas tendências e perspectivas sejam positivas, ainda encontram-se aquém do patamar ideal. Elas indicam, entretanto, que a condução da política econômica está em trajetória ascendente. Contudo, permanecem algumas incertezas em relação ao equilíbrio das contas públicas, uma vez que a intenção de substituir o teto de gastos pelo "novo arcabouço fiscal" carrega consigo um véu de nebulosidade, deixando-nos sem clareza quanto a essa questão.
A expectativa aponta para um aumento na dívida líquida do setor público, que poderá saltar de 60% do PIB em 2023 para 68% em 2026, mantendo-se um cenário de resultado primário deficitário. Tal panorama pode resultar na necessidade de manter os juros básicos da economia em níveis elevados, visando atrair investidores para nossos títulos públicos.
Tal situação reflete-se em um ritmo de crescimento econômico subjugado e no abrandamento das contratações no mercado de trabalho. A restauração das perdas econômicas sofridas ao longo da última década, assim como das oportunidades de emprego que foram dissipadas, não ocorrerá nos próximos quatro anos. Nesse contexto, a recuperação e a melhoria dos indicadores demandarão um período mais longo para se concretizar. Paralelamente, a população continua a aumentar, a parcela em idade ativa cresce e os índices de pobreza aumentam.
Imersos nesse cenário, somos testemunhas de uma batalha pelo controle de cargos e ministérios, de esquemas de orçamentos secretos e artifícios das emendas "Pix", de um incremento na tributação da população e de benefícios direcionados aos setores mais abastados e bem organizados. Além disso, assistimos a demandas por mais recursos destinados aos fundos partidário e eleitoral. Em suma, as perspectivas para a população em geral são ruins, enquanto abundam benesses para aqueles que detêm o poder político e econômico.
A reflexão sobre os dilemas que afligem o Brasil é, frequentemente, distorcida, e a retificação dessas anomalias começa nos recantos municipais, estende-se às estruturas governamentais estaduais e finalmente alcança Brasília. No entanto, esse percurso raramente contempla a devida auscultação, consideração e resolução das reais demandas da população.
Nesse cenário de inquietante complexidade, convém lembrar o provérbio popular: "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura." A capacidade de transformação emerge da persistência, da insistência em pautar os temas essenciais e da exigência por respostas tangíveis das autoridades que detêm o leme da nação. Assim, a inquietante interrogação se delineia: Até quando as aspirações do povo serão subjugadas pelos jogos de poder? Até quando a retórica suplantará a ação efetiva? É chegada a hora de questionar os agentes políticos não apenas com palavras, mas com a vigorosa demanda por mudanças palpáveis e responsáveis.
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