quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Impressões

Começamos o ano de 2019 com muito otimismo. Estávamos saindo de uma crise fiscal que levou nosso país à uma profunda recessão por mais de dois anos. As coisas estavam começando a melhorar com alguns arremedos de reformas propostas pelo governo Temer. O governo Dilma foi desastroso para nossa economia, porém o governo Temer conseguiu entregar para o seu sucessor um Brasil melhor do que havia recebido. Não avançou mais nas reformas necessárias por conta de novas crises políticas que conseguiu administrar em tempo de encerrar seu mandato.

O início do governo Bolsonaro estava ensopado de otimismo e esperava-se que o novo mandatário conferisse autonomia para que sua equipe de governo começasse a implementar reformas estruturantes para recolocar o país nos rumos do crescimento econômico.

As expectativas projetavam uma inflação média abaixo de 4% durante os quatro anos do novo mandato e um crescimento econômico médio de 2,5%, combinado com uma disciplina fiscal que levariam as contas públicas a apresentarem superávit primário no final de 2022 e reduzisse o déficit nominal a 5,5% do PIB. Neste cenário esperava-se que o investimento direto no país atingisse US$ 88 bilhões, garantindo o equilíbrio externo e permitindo um bom nível de financiamento do crescimento.

Nada disto se consolidou. Nos anos de 2020 e 2021 por conta da pandemia, que travou praticamente todas as economias do planeta com o necessário distanciamento e isolamento social. Já para o ano de 2019 as tão esperadas reformas não saíram do imaginário. Sequer foram passadas para o papel. Se consolidou o que opinei em janeiro de 2019 quando afirmei que o Bolsonaro não era liberal, pelo contrário, sempre pregou ideias opostas que intensificavam o intervencionismo estatal e a defesa de corporações de servidores.

O grande desafio para o início do mandato de Bolsonaro era a redução do déficit fiscal, fato que somente se agravou nos três anos de mandato. Em 2018 o déficit primário do governo central ficou em 1,7% do PIB e em 2019 reduziu para 1,2% do PIB. Porém, em 2020 o déficit primário subiu a 10% do PIB e em 2021 deve atingir 0,6% do PIB.

Os otimistas de plantão irão afirmar que o governo conseguiu reduzir o déficit primário. Reduziu a 0,6% do PIB, mas não podemos desconsiderar a forte oscilação no período que elevou a dívida líquida do governo central dos 54,7% do PIB em dezembro de 2018 aos 61,8% em novembro de 2021. Isto significa que reduziram o déficit, sim, porém ao custo de uma forte elevação da dívida pública.

E ao que tudo indica em 2022 as coisas sairão novamente do controle. Aquilo que parecia uma “tomada de rédeas” das finanças públicas por parte do governo federal foi somente uma cortina de fumaça. Neste ano o governo está ampliando as despesas, inclusive rompendo com o teto dos gastos para praticar o populismo fiscal. Com efeito, voltaremos a ter um déficit primário em torno de 1% do PIB e a dívida líquida do setor público poderá ser alçada a 62,5% do PIB.

Isto demonstra o comportamento contumaz de indisciplina fiscal e reduz a confiança dos setores financeiro e produtivo nas ações do governo em estabilizar os preços, promover o crescimento econômico e aumentar a geração de emprego e renda. Estes sinais emitidos pelo governo federal fortalece a polarização política e inviabiliza uma impulsão da chamada terceira via.

As impressões que ficam é que não querem gerar emprego e renda através do crescimento econômico, mas somente se manterem no poder através de ações populistas às custas do dinheiro público. Simples assim.


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