Começaremos o ano de 2022 com inflação, câmbio, juros e desemprego altos. Poderíamos considerar aceitáveis se estes efeitos tivessem ocorridos com todas as economias do globo, sem reversão. A inflação está elevada em todos os países, sim. O aumento da demanda das commodities combinado com uma oferta não compatível pressionaram os respectivos preços internacionais para cima, gerando inflação em todas as economias.
No caso brasileiro a inflação é mais elevada por conta do processo de desvalorização de nossa moeda frente ao dólar. A estimativa que aponto é que os fundamentos de nossa economia são compatíveis com uma taxa de câmbio em torno de R$ 3,80 por dólar. Isto significa que a pressão sobre os preços está 47% acima do que deveria por conta da desvalorização de nossa moeda.
Vamos amargar uma inflação superior a 10% neste ano quando poderíamos ter somente algo em torno de 6,8%. Isto faz diferença nos salários reais pagos e no nível de crescimento econômico: seriam maiores.
O principal componente que eleva a taxa de câmbio para níveis acima do que deveria estar é o político. São crises políticas que geram incertezas e desconfianças e deterioram a credibilidade da política econômica. Com isto, o risco-país também aumenta. Para equilibrar esta equação complexa o governo se obriga a elevar os juros internos para atrair fluxos de capitais.
São estas as perspectivas que temos para o próximo ano e os cenários prospectivos para o ambiente econômico, sem considerar intervenções de política econômica mais efetivas, é de que continuaremos com inflação acima da meta, taxa de câmbio nos mesmos níveis atuais e juros mais elevados. Com efeito, espera-se que nossa economia entre em estagnação e os mais pessimistas já apontam para uma recessão. Em qualquer um dos dois cenários teremos a manutenção do nível de desemprego em patamares elevados.
As pessoas que defendem o governo tentarão justificar que as coisas estão boas e que o governo está fazendo que é possível. Discordo deste argumento. Não dá para debater soluções para a conjuntura econômica movidos por paixões políticas. Temos que analisar os fundamentos da economia e o comportamento dos agregados macroeconômicos.
Os juros elevados ajudam a atrair investimento estrangeiro, gerando superávit na conta capital e equilibrando o balanço de pagamento, uma vez que a conta corrente é deficitária. Porém, também inibem o investimento em formação bruta de capital fixo, travando o crescimento de nossa economia.
Por conta disto, acredito que teremos crescimento econômico próximo de zero no próximo ano se o governo não redirecionar sua política econômica. O cenário se torna mais pessimista com a instabilidade provocada pela perspectiva de indisciplina fiscal, ou seja, com a perspectiva de aumento dos déficits primário e nominal. Podemos projetar para 2022 um déficit primário na ordem de R$ 109 bilhões, um déficit nominal de R$ 608 bilhões e pagamento de juros sobre a dívida líquida em torno de R$ 499 bilhões.
Este comportamento somente poderá ser revertido com a retomada do crescimento econômico a partir de 2023 com a normalização dos fundamentos da economia brasileira por volta do ano de 2026. Dizem que a diferença entre o veneno e o remédio está na dosagem. Pois bem, estamos vivenciando tempos difíceis por conta de erros na dosimetria das políticas econômicas.
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