quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Pega na mentira

Durante o período eleitoral de 2018 as expectativas acerca de uma reversão da corrupção, uma redução da carga tributária e do gasto público com a geração de superávit primário, redução do número de servidores comissionados e a desoneração da folha de pagamento estavam presentes no pensamento e na atitude da maioria dos brasileiros. Tanto é que o protagonista destes compromissos eleitorais ganhou as eleições e preside o país até hoje.

Mas, para a tristeza de muitos destes que acreditaram nestas promessas, pouco (ou quase nada) saiu do papel, se é que um dia nele foi posto. É claro que no meio do percurso tivemos a pandemia do coronavírus e a crise econômica dela decorrente. Mas algumas coisas poderiam ter sido encaminhadas em paralelo ao combate à referida crise. Porém, nem este combate se deu de forma estruturada, planejada. Pelo contrário, foram criadas diversas crises políticas por questões atitudinais que geraram um cenário de instabilidade política.

Normalmente a instabilidade econômica gera uma crise política. Porém, no Brasil atual, a instabilidade política é que está gerando uma nova crise econômica que aprofunda os problemas causados pela pandemia. Pesquisa recente elaborada pela Quaest Consultoria aponta que em julho deste ano os problemas com saúde/pandemia eram a preocupação de 41% dos brasileiros e a economia figurava em segundo lugar com 28%. Pois bem, agora em novembro o principal problema para 48% dos brasileiros é a economia seguida pela saúde/pandemia com 17%, as questões sociais com 13% e a corrupção em último lugar com 9%.

O fato de a corrupção ter ficado em último lugar na preocupação dos entrevistados não quer dizer que ela deixou de existir. Mas quero destacar aqui a preocupação crescente com a economia. Agora as pessoas começaram a se preocupar com o crescimento econômico, ou seja, com a ausência do crescimento necessário para sairmos mais rápido da crise.

Embora o ministro Paulo Guedes afirme, de forma insistente, aos investidores estrangeiros que nossa economia está crescendo acima da média, a preocupação dos brasileiros é justamente com o baixo crescimento. A afirmação de Paulo Guedes é facilmente desmentida pelas estimativas de crescimento econômico mundial. Iremos crescer abaixo da média mundial, abaixo da média das economias emergentes e em desenvolvimento e até abaixo da média da América Latina e Caribe.

O que Paulo Guedes está contando é uma mentira “deslavada” tal qual as relatadas por Erasmo Carlos na sua música “Pega na mentira”. Nossos indicadores econômicos preocupam muito, pois ainda não retomamos o nível de PIB do período pré-pandemia como muitas economias do globo. Consequentemente nosso desemprego persiste elevado com o agravante de que estamos experimentando baixo crescimento com inflação elevada. Normalmente tivemos intercalados alto desemprego com baixa inflação ou baixo desemprego com inflação alta. Agora estamos vendo um cenário preocupante onde temos inflação e desemprego altos contrastando com baixo crescimento econômico.

É claro que a inflação é um processo global, porém o crescimento das principais economias está reduzindo o desemprego e logo atingirão o nível de desemprego pré-pandemia, o que deverá demorar para acontece no Brasil. Para 48% dos brasileiros o principal problema do país é a economia e este deverá ser o foco das eleições presidenciais do próximo ano e se estenderá para os próximos quatro anos. Zico e Pelé não jogaram juntos no Vasco. É mentira. Assim como a retórica de muitos de nossos agentes políticos.


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