quarta-feira, 3 de março de 2021

Cavalo de Tróia

Ao que tudo indica a miopia do presidente Bolsonaro e de seu séquito continua e apresenta indicativos de que pode piorar. Num momento em que a saúde pública e os efeitos da pandemia na economia deviam ser as prioridades de ações do governo vemos as discussões passarem por questões periféricas e bravatas populistas parecendo que estão fazendo uma espécie de “corta-luz”.

O número de infecções e óbitos por causa da Covid-19 está aumentando e tende a se agravar nas próximas semanas. Paralelo a isto temos uma grave crise econômica aliada a um aumento generalizados dos preços dos combustíveis, gás de cozinha e alimentos. A miopia é intencional. Pretende distorcer a verdade dos fatos e esconder a incapacidade do governo (ou de seu governante) de tratar com a devida responsabilidade as questões prioritárias com transparência.

Uma boa parte dos países do mundo estão com a vacinação avançando e retomando as atividades produtivas, situação que não está acontecendo no Brasil. Pelo contrário, estamos paralisando, novamente. Com a retomada da atividade econômica no resto do mundo está ocorrendo um aumento da demanda de insumos e as commodities estão se valorizando, o que deveria beneficiar nossa economia com o aumento das exportações e, com isto, ocorreria uma valorização da nossa moeda anulando o aumento dos preços no mercado internacional e arrefecendo a inflação interna.

Mas como nosso governo não está planejando adequadamente os seus atos temos um rombo fiscal que está aumentando o risco-país e desvalorizando nossa moeda. Com isto, o aumento dos preços das commodities é potencializado com o aumento da taxa de câmbio puxando nossa inflação para cima. Como o Brasil utiliza o sistema de metas de inflação a resposta esperada para combater a inflação é o aumento da taxa de juros.

Na outra linha o presidente vê a sua popularidade em baixa e a pressão dos caminhoneiros por conta do aumento do preço do diesel. E não é somente o preço do diesel que está subindo, também estão subindo os preços da gasolina, etanol e gás de cozinha.

Agora Bolsonaro cumpriu a sua fala e o governo federal zerou a incidência de PIS e Cofins sobre o diesel e gás de cozinha. No caso do diesel a validade da redução é por dois meses, já para o gás de cozinha a medida é permanente. Só que para fazer isto o governo federal terá que onerar outros setores, neste caso irá aumentar a carga tributária das instituições financeiras e alterar as regras do IPI para aquisição de veículos por pessoas com deficiência, além de reduzir subsídios para a indústria química.

Estas medidas resolverão a situação do aumento dos preços? Não. A redução nos preços do diesel será somente por dois meses e depois volta ao normal. E ainda temos os casos dos preços da gasolina e do etanol. No caso da gasolina a carga tributária pode variar de 44% a 48% do preço final da gasolina, sendo que no Paraná somente o ICMS é de 29% sobre a gasolina, de 18% sobre o etanol e de 12% sobre o diesel. Já sobre o gás de cozinha o ICMS no estado é a maior alíquota praticada no país, de 18%. 

Não é somente uma pequena e temporária redução de impostos federais que irão amenizar a situação dos brasileiros, em especial os mais pobres, mas sim uma reforma tributária ampla, seguida de uma reforma administrativa e da rediscussão do pacto federativo e de redução de repasses para os outros poderes. As medidas que estão sendo tomadas são paliativas e tratam de “empurrar” os problemas para frente. Estão preparando um verdadeiro “cavalo de Tróia” para os brasileiros. 

2 comentários:

  1. O Presidente já passou por inúmeras fases... BolsoNero, BolsoCaro e agora BolsoLero! O problema consiste na ausência de qualquer plano de governo exequível! O governo está perdido e não tem a mínima ideia do que fazer. Parece que estamos indo da miopia para a fantasia, onde nos tornamos um enorme moinho de vento ao estilo pixotesco!

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