quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Do fanatismo à inércia social


Dizem que o brasileiro é um povo fanático. Concordo, uma parcela significativa da população pode ser considerada fanática por algo. Temos fanáticos religiosos, fanáticos por futebol e até fanáticos por política. Mas a característica de sermos fanáticos por alguma coisa não é exclusividade. Outros povos também são fanáticos por algo. São praticamente as mesmas vontades e comportamentos, com exceção dos limites que as organizações sociais impõem para os comportamentos de seus fanáticos.

Temos, de certa forma, um fanatismo religioso, mas conseguimos conviver muito bem com a diversidade religiosa que não impõem divergências violentas como acontece em outros países. Temos o fanatismo por futebol onde ainda existem as torcidas organizadas que já demostraram que são extremamente violentas e até o presente momento nossa organização social ainda não decidiu pelo banimento destes grupos que destoam de nosso conjunto social.

Há diversos relatos de brigas entre torcidas organizadas tendo como resultado a depredação do patrimônio público e privado, muitas pessoas feridas e algumas até perdendo a vida. E ainda persistimos em permitir a existência dessas agremiações. Até entre amigos e familiares existem divergências motivadas pelo fanatismo por futebol que causam discórdias. Não deveria ser assim, mas é.

Também temos os fanáticos por política e por políticos. No mundo todo existem esta modalidade de fanatismo que se torna mais intenso conforme o nível cultural da sociedade.

Todos dependemos de política, não podemos nos desinteressar por política porque é ela que define todas as regras de convivência social e a utilização plena de nossos direitos e o acompanhamento do cumprimento de nossos deveres. Não gostar e não discutir política serve como uma delegação para que outras pessoas o façam por nós, o que é temerário. Se preocupar, discutir e influenciar na política é uma demonstração de nível cultural elevado de uma sociedade, e esta prática deve ser preservada.

Já a adoração e o fanatismo por políticos são controversos, embora também sejam comuns. Atualmente, isto está muito evidenciado em textos que recebemos em aplicativos de mensagens instantânea e nas redes sociais. Temos uma grande cisão social, onde uma parcela defende um fanatismo exagerado pelo presidente Bolsonaro, uma outra parcela defende uma oposição focada na figura do ex-presidente Lula e ainda temos pequenas parcelas que defendem outros políticos e até mesmo alguns que buscam aplicar a chamada racionalidade humana.

Há que diga que o governo Bolsonaro é o melhor de todos os tempos, não acredito nisto. Já há quem diga que é o pior do período da redemocratização. Também não acredito nisto e costumo dizer que na questão social e econômica ele não é o pior do período porque tivemos o governo de Dilma Rousseff. O governo Bolsonaro pode até não ter tido tempo de fazer muita coisa na área social e econômica, mas o problema é que não apresentaram um projeto de resgate econômico e social.

A defesa intransigente de figuras políticas, beirando a idolatria, como ocorre com Bolsonaro e Lula, são extremamente danosas para a sociedade e fere de morte a racionalidade econômica e social. Temos que ter um limite para o fanatismo com nossos políticos e este limite deve ser a racionalidade. Não há argumentos e inexistem fatos que os coloquem como “salvadores da pátria” ou como “mitos”. Basta uma simples análise conjuntural, sem precisar aprofundar em questões estruturais para constatar que há muito por se fazer e nada sendo feito.

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