Se não bastasse isto, muitos
agentes políticos em pré-campanha eleitoral buscam lançar mão de críticas
acerca dos aumentos dos preços dos alimentos e também culpam os comerciantes.
Que os preços dos alimentos estão subindo muito é óbvio, mas pôr a culpa nos
comerciantes já é exagero.
Se considerarmos o Índice
Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE, que mede a inflação para
famílias com renda de 1 a 5 salários mínimos, constatamos que o grupo de
alimentos e bebidas teve um aumento de preços de 4,59%, de janeiro a julho
deste ano. No mesmo período o arroz subiu 15,62%, o feijão carioca subiu
20,28%, a batata inglesa teve alta acumulada de 25,44% e o açúcar cristal,
10,32%.
Basta uma pequena busca na
internet ou mesmo acompanhar os noticiários econômicos que tanto o presidente
quanto os oportunistas de plantão terão as informações corretas e saberão que a
culpa não é dos comerciantes. Estes são intermediários e repassam seus custos e
tentam manter uma taxa de lucro normal.
O setor de alimentos é muito
competitivo e as possibilidades de lucros extraordinários são pouco comuns.
Entenda-se como lucros extraordinários aqueles que estão acima da média e isto
não é fácil de ocorrer em setores competitivos. Portanto, não se pode apontar o
dedo para os comerciantes e acusá-los de serem os causadores do aumento do
custo dos alimentos para a população. Tampouco, afirmar que o aumento dos
custos dos alimentos é por causa do pagamento do auxílio emergencial.
A explicação para o aumento
dos preços dos alimentos é técnica e as soluções passam por decisões de
políticas públicas para a cesta básica ou mesmo por políticas econômicas para
abrandar alguns fundamentos da economia.
Os preços elevados da soja
estão causando o aumento de preços de seus derivados. A safra de 2019/2020 já
foi toda comercializada, a de 2020/2021, que ainda não foi semeada, já está com
uma metade vendida e já se falam em começar a comercializar a de 2021/2022. Os
preços estão sendo pressionados pela falta do grão no mercado.
Os preços do arroz e feijão
também estão aumentando. O primeiro por conta de a indústria de beneficiamento
estar trabalhando com o produto já adquirido, aguardando preços melhores para
voltar a comprar, e o segundo porque o mercado está entrando no vazio de
oferta.
Além das questões de mercado interno
e externo de cada produto temos que considerar que estes são commodities e seus
preços são estabelecidos no mercado internacional. Com o dólar em alta os produtos
primários brasileiros ficam baratos no exterior e as exportações se tornam mais
interessantes do que vender no mercado interno. Por conta disto a indústria
nacional tem que se submeter a pagar mais caro pela matéria prima, repassando
os aumentos dos custos para frente. O mesmo está acontecendo com as carnes de
frango e boi que, por sua vez, puxam o preço da carne suína.
Com a manutenção da cotação do dólar em alta as perspectivas de baixa dos preços dos alimentos são remotas. Não se trata de tentar persuadir os comerciantes a serem mais “patriotas”, mas sim de o governo buscar soluções para amenizar a desvalorização de nossa moeda. Já faz tempo que o câmbio está sendo o vilão do custo de vida dos brasileiros. Só não enxerga quem não quer.
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