Nas últimas semanas o governo Bolsonaro tem experimentado um aumento significativo de sua aprovação e isto está sendo atribuído especificamente a uma modulação na retórica do presidente e a uma tendência de melhora da economia lastreada pelos impactos do auxílio emergencial pago por conta do estado de pandemia.
Com efeito, temos que há uma
melhora nas expectativas de desempenho da economia que, na sua mediana, prevê
uma queda de 5,5%, sendo que chegou a atingir uma expectativa de queda de 6,6%.
A economia está respondendo positivamente, porém isto não significa que os
danos da crise não serão perversos e de que não demorará muitos anos para se
recuperar totalmente e voltar aos níveis em que estava operando antes da crise.
Este cenário de melhora das
expectativas não tem relação com as habilidades técnicas e políticas do
governo, até porque inexistem tais habilidades. A modulação na retórica tem
vinculação com um claro instinto de sobrevivência que levou o próprio presidente
Bolsonaro a amenizar seu discurso radical quanto a muitos aspectos
comportamentais e econômicos, com passagem importante pelo negacionismo da
gravidade da pandemia. Ele deixou o discurso enfatizando questões mais radicais
e promoveu uma aproximação estratégica com o chamado Centrão, lançando mão de
práticas combatidas durante a campanha eleitoral.
Mas o que tem tido efeito mais
significativo na melhora da avaliação do governo é o pagamento do auxílio
emergencial. A intenção do governo era de pagar um auxílio menor no valor e
abrangência, porém isto foi potencializado na Câmara dos Deputados e veio a se
tornar a principal medida para amenizar os efeitos da crise econômica causada
pela pandemia.
Com o pagamento do auxílio
emergencial a miséria em nosso país diminuiu porque muitas pessoas e famílias
que acessaram o benefício passaram a contar com mais recursos do que antes, uma
vez que muitas destas pessoas e famílias tinham renda inferior aos R$ 600 que
estão sendo pagos pelo governo. Isto também se aplica a milhões de brasileiros
que estão desempregados e sem renda nenhuma.
O governo percebeu que o
programa proporcionou uma melhora de vida de milhões de brasileiros que antes
não tinham renda e que passaram a ter dinheiro para poder por comida na mesa.
Naturalmente, estas pessoas passaram a apoiar o governo e isto despertou o
interesse na manutenção do auxílio emergencial. Tudo isto motivado não pelo
interesse e necessidade de se ter uma política de apoio aos pobres e miseráveis
brasileiros, mas tão e somente com o interesse de manter o nível de aprovação
do governo.
A grande questão que tem que
ser resolvida é a sustentabilidade deste programa diante do risco de rompimento
do teto de gastos, que é a principal âncora fiscal que busca amenizar nossa
situação econômica. Isto é posto porque o governo federal não tem margem fiscal
para aumento de despesas. Não tem sequer para a manutenção do nível de gastos
que está tendo neste ano, mas neste caso é excepcional por conta do estado de
emergência.
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