Os grandes desafios para os
policy-makers bolsonaristas são os de garantir o financiamento de suas
propostas, o que contrasta com o desequilíbrio nas contas públicas e os riscos
de manter o déficit fiscal. Estes riscos são muitos e todos levam para o
aumento no risco-país e aos impactos diretos e indiretos do déficit fiscal
sobre o nível de atividade, que pode desacelerar a geração de emprego e, com
isto, afetar a massa salarial.
As propostas de reformulações
das políticas públicas do governo federal começam, basicamente, pelo rebatismo.
O Bolsa-família passará a se chamar Renda Brasil e o Minha Casa, Minha Vida
passará a ser o programa Casa Verde Amarela. Para além da mudança dos nomes dos
programas as alterações estruturais ainda estão em gestação e ainda não se sabe
se terão suas ações, abrangências e benefícios potencializados.
O sucesso destas mudanças, com
a manutenção (ou aumento) da aprovação do governo, somente ocorrerá se melhorar
a qualidade de vida da população. E isto depende da retomada do crescimento da economia.
Governistas de plantão irão afirmar que a economia já retomou o crescimento. Só
que não.
O que está ocorrendo é uma
reversão do processo de queda da economia, ou seja, o período de recessão está
se arrefecendo e o comportamento do PIB está começando a sofre uma reversão. O
PIB de 2020 irá ter uma evolução negativa em comparação com o PIB de 2019. Não
tem mais como evitar isto. A expectativa é que nossa economia encolha entre
4,5% e 5,5%. Com isto, é claro que teremos aumento do desemprego.
Embora nossos agentes
políticos estejam comemorando os saldos positivos na geração de empregos
apresentados com a divulgação do CAGED de julho, onde nossa economia teve um
saldo positivo de criação de emprego de 131 mil postos de trabalho, não podemos
esquecer que no acumulado do ano tivemos o fechamento de 1,09 milhão de postos
de trabalho. Isto no mercado formal. Se considerarmos o conjunto da sociedade
os danos causados pela crise são maiores e devem ser estudados com
profundidade.
Se considerarmos os dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), do IBGE,
identificaremos dados alarmantes. A estimativa de pessoas empregadas no segundo
trimestre de 2020 apresentou redução de 5,9 milhões de pessoas na comparação
com o primeiro trimestre do ano. Na comparação com o mesmo trimestre de 2019 a
redução foi maior, quase 10 milhões. Os mesmos movimentos são identificados com
os quantitativos de empregadores, de trabalhadores por conta própria e dos
trabalhadores familiares auxiliares.
Assim, podemos afirmar que
estamos diante de uma forte crise de ocupação que poderá não ser revertida no
curto prazo, se considerarmos os ganhos de produtividade que estão sendo
apontados com o teletrabalho. Com isto, teremos um maior desemprego em regiões
onde o nível de escolaridade e de qualificação da mão de obra sejam menores.
Daí a importância na elaboração de políticas sociais eficientes que garantam a assistência e cobertura ampla da maioria das pessoas que ficarão excluídas do mercado de trabalho por conta da nova crise que está em formação. Paulo Guedes terá que ser menos liberal e o governo, como um todo, mais competente.
Excelente artigo professor Rogério. A economia brasileira só sairá do buraco utilizando-se do Estado como indutor, ao menos por um tempo e claro melhorar sua eficiência na gestão.
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