Na semana passada o ex-ministro
Luiz Carlos Bresser-Pereira concedeu uma entrevista para o professor Marco
Antonio Villa, em seu canal do YouTube. Foi um bate-papo que abordou nossa
história econômica e política recente. O título da entrevista foi definido a
partir de uma afirmação do professor Bresser-Pereira: “Liberalismo econômico é
incompatível com o desenvolvimento do Brasil”.
Ficou evidente a importância
que Bresser-Pereira aponta para a taxa de câmbio e para o nível de investimento
na economia. Destaco aqui o investimento que em macroeconomia é definido como a
aplicação de recursos em meios que levam ao crescimento da capacidade produtiva.
Por conta disto o investimento também é chamado de formação bruta de capital e
está diretamente ligado ao crescimento e desenvolvimento de uma economia.
O nível de investimento de uma
economia é fundamental para o seu crescimento e desenvolvimento, entretanto a
sua origem ou formação pode influenciar outros eventos econômicos. Neste ponto
que reside a crítica de Bresser-Pereira ao liberalismo econômico, pois ele não
concorda com o crescimento baseado em endividamento externo da mesma forma que
critica os economistas desenvolvimentistas (linha de pensamento ao qual ele se
auto enquadra) ao concordarem com o crescimento lastreado em poupança externa,
gerando déficits sucessivos em conta corrente.
Na análise econômica
simplificada e introdutória é ensinado que o nível de investimento é igual ao
nível de poupança. Porém, esta simplificação parte das condições de equilíbrio
nas contas públicas e no balanço de pagamentos. No caso brasileiro as contas
públicas estão deficitárias e há superávits sucessivos no balanço de pagamento.
Assim, o governo tem como alternativas o endividamento externo e a atração de
poupança externa para poder manter um determinado nível de investimento como
forma de buscar o crescimento da economia.
Para melhorar este cenário e
conseguir potencializar o nível de investimento a partir da poupança doméstica
uma das alternativas seria o setor público reverter o déficit nas contas
públicas para que passemos a ter poupança pública. Só que esta possibilidade
não ocorrerá nem no curto e nem no médio prazo, uma vez que a previsão é de que
as contas públicas “entrem no azul” somente em 2033. Isto se não tivermos mais
nenhuma crise econômica ou política neste período.
Este cenário pode ser
amenizado, porém é nítido que algumas medidas devem ser tomadas e dentre elas
quero destacar a necessidade de uma reforma administrativa no setor público e a
mudança de postura dos governos estaduais e municipais acerca do conceito e da
prática de investimentos. No caso da reforma citada temos que, com o advento da
pandemia atual, é sabido por todos que teremos mudanças no comportamento das
pessoas e também das empresas. Porém, também há a necessidade de mudanças no
comportamento do setor público. Se antes disto já era necessária uma reforma
administrativa no setor público, com as mudanças comportamentais após o fim da
pandemia se torna mais evidente e urgente que ela ocorra.
Estas mudanças passam
pela produtividade do setor público e pela eficiência de seus investimentos na
contribuição para o aumento da capacidade produtiva da economia, seja de forma
direta, atendendo demandas da sociedade onde a iniciativa privada não queira
atuar, ou de forma indireta, através da garantia de um estado de bem-estar
social. O que é certo é que o setor público não pode ficar do jeito que está.
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