Em
nosso país deveria ter eleições municipais anualmente. Para presidente da
República, deputados, senadores e governadores poderiam continuar sendo a cada
quatro anos. A ironia na afirmação se dá pelo fato de que sempre em ano de
eleições municipais milhares de cidades brasileiras “fervem em obras”.
Pelas
minhas andanças motivadas pelo exercício de meu ofício me deparo com a
aplicação do ciclo político tradicional de forma explícita. No estudo das
teorias dos ciclos políticos muitos pesquisadores analisaram os comportamentos
dos agentes políticos. Estes estudos datam da primeira metade do século passado
e são válidos até os dias atuais.
Em
1957, o economista William Nordhaus, apresentou o modelo tradicional de ciclo
político e apontou que este possui algumas premissas: os políticos intervêm em
questões econômicas para maximizar votos; os resultados eleitorais dependem dos
resultados econômicos; antes das eleições os políticos manipulam as políticas
públicas para promover a sensação de crescimento econômico e redução do
desemprego; e os políticos acreditam que os eleitores possuem um comportamento
eleitoral retrospectivo e míope.
Estas
premissas são válidas até os nossos dias, sim. Nas andanças citadas, e tenho
certeza que muitas pessoas também se identificam com o aqui descrito, se tornou
comum se deparar com muitas obras nos municípios por onde passei. É o ciclo
político tradicional, onde os políticos começam os seus mandatos realizando
poucas ações e criticando os seus antecessores e, à medida que vão se
aproximando as eleições, o dinheiro que antes não existia aparece e as obras
começam a “pipocar” em todos os cantos.
É
uma verdadeira “febre”. Tudo de bom acontece em ano eleitoral. Se aparecer um
buraco no asfalto, no dia seguinte é consertado. Não tem lâmpadas queimadas nos
postas, as praças e parques ficam devidamente roçados e os seus bancos limpos e
pintados.
Na
saúde surgem as consultas e procedimentos especializados, coisas que não
aconteciam nos primeiros anos do mandato, e há distribuição de medicamentos.
Na
educação tem distribuição de materiais e uniformes escolares, ovos de chocolate
na Páscoa, passeios divertidos e a merenda se torna farta e deliciosa.
Estes
fatos elencados, que não são fictícios, tem relação com a teoria de Nordhaus. É
o ciclo político tradicional tipificado como oportunista, onde os agentes
políticos manipulam as políticas públicas, principalmente as econômicas,
fazendo ter superávits consecutivos para potencializar gastos na véspera das
eleições e conseguir a sua reeleição ou a eleição de seus apoiados e
apaniguados.
Muita
gente poderá torcer o nariz com estas afirmações e tecer muitas críticas, mas é
isto que acontece. É fácil efetuar a verificação empírica. Basta observar com
atenção o que aconteceu nos últimos três anos e o que está acontecendo, ou
sendo prometido que será feito, neste ano. No ano das eleições.
E,
de forma explícita, os políticos que se encontram no poder apostam na amnésia
de memória recente e na miopia política de parte dos eleitores e conseguem
convencê-los de que eles são bons gestores e que não convém promover mudanças,
elegendo pessoas novas que são taxadas de inexperientes.
Parafraseando Chico
Buarque, todo ano eleitoral é sempre assim, eles fazem tudo sempre igual.
Sacodem os eleitores com obras, ações e discursos que tiram sempre o mesmo
sorriso dos eleitores. Eles apostam que os eleitores não são racionais e que
não analisam a trajetória completa do político. E é assim mesmo que acontece e
daí começa um novo ciclo. Mas já é hora dos eleitores romperem com este modelo
e começarem a agir com mais racionalidade na hora de suas escolhas políticas.
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