Viver no Brasil atual é uma
coisa “sui generis”. Tecer comentários e fazer análises é mais ainda, podendo
até ser perigoso. Vivemos um momento de contrastes, onde se tem dois grandes
grupos que dividem as opiniões sobre praticamente tudo. E nestes grupos os
extremos se destacam pela ferocidade e voracidade. Nosso país já vivenciou esta
situação em outros momentos da história. Só que as coisas mudaram e agora a
comunicação ocorre em tempo real.
Basta alguém arriscar fazer um
comentário ou emitir sua opinião sobre um determinado assunto que as reações já
se iniciam e o embate pode até extrapolar todos os limites toleráveis de urbanidade.
Vivemos momentos difíceis para as pessoas que tentam utilizar a doutrina do
meio-termo, do equilíbrio.
Se for comentado que a
previsão de crescimento da economia de 2,23%, para a situação atual e recente
do país, é pouco os governistas de extrema direita irão criticar e afirmar que
pelo menos está crescendo, que a situação estava muito pior e que as coisas
irão melhorar porque o governo está fazendo tudo certo. Já pelo outro lado, os
opositores de extrema esquerda irão criticar e afirmar que a taxa de
crescimento não só é pouca, que é péssima, e que o governo está destruindo
todas as políticas sociais e a população brasileira está empobrecendo.
Oras bolas, um crescimento de
2,23% para a economia brasileira é pouco, sim. Embora estejamos saindo de um
período de recessão a retomada está muito lenta e a situação de muitas famílias
brasileiras pioraram nos últimos dez anos e, se manter este ritmo de retomada,
demorará muito para voltar aos níveis anteriores à crise recente.
Não vejo motivos para travar uma
guerra só porque foi comentado que a taxa de crescimento da economia prevista é
baixa. É baixa, sim, tanto para os conservadores quanto para os esquerdistas.
Não precisamos guerrear por conta disto, há de se utilizar o bom senso, o
equilíbrio e as regras de urbanidade e cordialidade.
Temos uma inflação que pode
ser considerada baixa? Sim. Mas quais as suas causas? O excelente desempenho do
governo federal com suas políticas de ajustes? Ou o empobrecimento da população
brasileira que, endividada e desempregada, não tem renda suficiente para
demandar os bens e serviços e, com isto, a pressão sobre os preços diminui?
Como diria um professor de
economia com o qual tive aulas: “isto é uma questão de semântica”. Realmente é
uma questão de interpretação. Só que atualmente as interpretações estão vindo
carregadas de tendências e ideologias extremistas.
Oras bolas, muitos prefeitos e
vereadores ficaram os últimos anos criticando e reclamando dos seus
antecessores, afirmando que eles não fizeram nada, que endividaram as
prefeituras e que as coisas estavam difíceis. Agora, em ano eleitoral, estes
políticos esqueceram as ladainhas e criaram novos mantras afirmando que as coisas
estão boas e que irão melhorar ainda mais.
Temos que ter muita
perspicácia para conseguir separar o joio do trigo em matéria de política. O
que precisamos é que as pessoas sejam mais tolerantes e fraternas. Que elas
aceitem e respeitem as opiniões dos outros. E que busquemos, todos juntos,
soluções para a melhoria da qualidade de vida da sociedade em que vivemos.
Devemos seguir os ensinamentos
de Dédalo, da mitologia cretense, que orientou seu filho a voar, com as asas
que construiu para fugir das maldades do rei Minos, pelo caminho do meio. Não
podemos fazer como seu filho, Ícaro, que, desobedecendo o pai, morreu. As
pessoas devem continuar emitindo suas opiniões e enfrentando todos os
extremistas, pois a solução mais sensata ainda é manter o equilíbrio nos
momentos de turbulência.
0 comentários:
Postar um comentário