domingo, 23 de fevereiro de 2020

Mantendo o equilíbrio


Viver no Brasil atual é uma coisa “sui generis”. Tecer comentários e fazer análises é mais ainda, podendo até ser perigoso. Vivemos um momento de contrastes, onde se tem dois grandes grupos que dividem as opiniões sobre praticamente tudo. E nestes grupos os extremos se destacam pela ferocidade e voracidade. Nosso país já vivenciou esta situação em outros momentos da história. Só que as coisas mudaram e agora a comunicação ocorre em tempo real.

Basta alguém arriscar fazer um comentário ou emitir sua opinião sobre um determinado assunto que as reações já se iniciam e o embate pode até extrapolar todos os limites toleráveis de urbanidade. Vivemos momentos difíceis para as pessoas que tentam utilizar a doutrina do meio-termo, do equilíbrio.

Se for comentado que a previsão de crescimento da economia de 2,23%, para a situação atual e recente do país, é pouco os governistas de extrema direita irão criticar e afirmar que pelo menos está crescendo, que a situação estava muito pior e que as coisas irão melhorar porque o governo está fazendo tudo certo. Já pelo outro lado, os opositores de extrema esquerda irão criticar e afirmar que a taxa de crescimento não só é pouca, que é péssima, e que o governo está destruindo todas as políticas sociais e a população brasileira está empobrecendo.

Oras bolas, um crescimento de 2,23% para a economia brasileira é pouco, sim. Embora estejamos saindo de um período de recessão a retomada está muito lenta e a situação de muitas famílias brasileiras pioraram nos últimos dez anos e, se manter este ritmo de retomada, demorará muito para voltar aos níveis anteriores à crise recente.

Não vejo motivos para travar uma guerra só porque foi comentado que a taxa de crescimento da economia prevista é baixa. É baixa, sim, tanto para os conservadores quanto para os esquerdistas. Não precisamos guerrear por conta disto, há de se utilizar o bom senso, o equilíbrio e as regras de urbanidade e cordialidade.

Temos uma inflação que pode ser considerada baixa? Sim. Mas quais as suas causas? O excelente desempenho do governo federal com suas políticas de ajustes? Ou o empobrecimento da população brasileira que, endividada e desempregada, não tem renda suficiente para demandar os bens e serviços e, com isto, a pressão sobre os preços diminui?

Como diria um professor de economia com o qual tive aulas: “isto é uma questão de semântica”. Realmente é uma questão de interpretação. Só que atualmente as interpretações estão vindo carregadas de tendências e ideologias extremistas.

Oras bolas, muitos prefeitos e vereadores ficaram os últimos anos criticando e reclamando dos seus antecessores, afirmando que eles não fizeram nada, que endividaram as prefeituras e que as coisas estavam difíceis. Agora, em ano eleitoral, estes políticos esqueceram as ladainhas e criaram novos mantras afirmando que as coisas estão boas e que irão melhorar ainda mais.

Temos que ter muita perspicácia para conseguir separar o joio do trigo em matéria de política. O que precisamos é que as pessoas sejam mais tolerantes e fraternas. Que elas aceitem e respeitem as opiniões dos outros. E que busquemos, todos juntos, soluções para a melhoria da qualidade de vida da sociedade em que vivemos.

Devemos seguir os ensinamentos de Dédalo, da mitologia cretense, que orientou seu filho a voar, com as asas que construiu para fugir das maldades do rei Minos, pelo caminho do meio. Não podemos fazer como seu filho, Ícaro, que, desobedecendo o pai, morreu. As pessoas devem continuar emitindo suas opiniões e enfrentando todos os extremistas, pois a solução mais sensata ainda é manter o equilíbrio nos momentos de turbulência.

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