No final da década de 1990,
mais precisamente entre 1996 e 1997, foi transmitida uma telenovela intitulada
“O Rei do Gado”. Um dos personagens na novela, o pecuarista Bruno Mezenga,
tinha por hábito fazer as contas de despesas e investimentos sempre
transformando os valores em equivalência com cabeças de gado. Isto se tornou
uma das marcas do personagem.
Esta é uma prática que, embora
possa parecer satírica, deve ser considerada e analisada por muitas pessoas que
não sabem o valor do dinheiro. Um pai pode ensinar para o filho quantos dias de
trabalho ele tem que ter para poder comprar isto ou aquilo para ele. Na mesma
linha de pensamento os contribuintes podem e devem fazer estas equivalências
para avaliar a aplicação dos recursos públicos por parte de nossos
representantes.
É claro que muitas pessoas
possuem a noção clara das ações e dos recursos públicos que são dispendidos,
porém muitas outras pessoas podem ser ludibriadas pelos agentes políticos e
acreditarem que os recursos públicos estão sendo bem aplicados.
Para compreender o escopo da
análise temos que lembrar, sempre, das diversas reportagens que assistimos,
ouvimos ou lemos sobre falta de medicamentos e médicos nos postos de saúde,
sobre a infraestrutura deficitária da educação, sobre a falta de transporte, de
segurança e de emprego em muitos municípios brasileiros. Sem falar que, na
maioria das vezes, estas demandas reprimidas contrastam com o desperdício de
dinheiro público em outras áreas ou mesmo com desvios destes.
Portanto, os cidadãos devem
estar sempre vigilantes acerca da forma com que os agentes políticos aplicam os
recursos públicos, pois temos a clareza de que as receitas são realizadas quase
que integralmente. Desta forma, se as receitas previstas ocorrem normalmente,
as despesas estimadas também devem ocorrer sem contingências ou cortes. Isto
sem falar que os cidadãos devem participar ativamente, opinando sobre a
elaboração do orçamento público.
Mas na prática não é isto que
acontece. Do lado das receitas elas ocorrem, sim, sem problemas. Porém do lado
das despesas podemos verificar que o caráter discricionário dos agentes
políticos distorce as prioridades estabelecidas inicialmente e redirecionam os
recursos de certas áreas para despesas de interesse deles e de seus grupos
políticos, compostos por um conjunto de apaniguados e puxa-sacos.
Não é difícil de constatar
isto na prática, basta calcular o percentual do orçamento executado para
algumas funções e subfunções. Em muitos municípios e até mesmo em muitos
estados e na União iremos verificar que o orçamento executado em relação ao
inicialmente previsto para funções como agricultura, assistência social,
segurança pública e trabalho não atingem 80% do valor previsto. Com isto, a
diferença é remanejada para áreas de interesse dos agentes políticos.
Os cidadãos devem fazer como o
Rei do Gado, relativizar os gastos público. Em outras palavras, os cidadãos
quando se depararem com alguma despesa diferente do comum devem transformar o
valor desta despesa em medicamentos para pressão arterial ou diabetes que
poderia estar disponível para a população, em números de médicos que poderiam
ser contratados mensalmente para atender nos postos de saúde, em materiais
escolares de qualidade para os alunos da rede pública, e por aí afora.
O que não podemos é ver o
dinheiro público ser gasto com despesas não tão prioritárias diante de tantas
carências existentes. Depois que os agentes políticos atenderem todas as
necessidades da sociedade, daí sim eles podem agir com discricionariedade com
os recursos públicos. Mas sempre com responsabilidade e sem usar para promoção
pessoal.
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