domingo, 6 de outubro de 2019

Ano que vem


No ano que vem teremos eleições municipais. O brasileiro passa por esta situação a cada dois anos para eleger agentes públicos, sem falar nos processos eleitorais para escolha de síndico, diretor de escola, reitor de universidade e presidente de clube, entre outros.

Se o problema fosse somente votar, tudo bem. Mas somos submetidos a um grandioso processo de propaganda eleitoral, onde se torna impossível de não sermos incomodados pelos candidatos ou por seus cupinchas.

Recentemente, um fato que fez com que os cidadãos se indignassem foi a tentativa sorrateira dos nossos políticos de aumentar o valor do Fundo Eleitoral. Felizmente tal tentativa foi vetada pelo presidente Bolsonaro, mas ficou o alerta sobre as diversas tentativas de nossos políticos de utilizarem os recursos públicos para outros fins que não o financiamento de políticas públicas.

Mas já tem um grupo de deputados se organizando para derrubar o veto presidencial e tentar garantir mais dinheiro público para ser utilizado para financiar as campanhas eleitorais municipais do próximo ano. Há quem diga que poderão até judicializar a questão para garantir cerca de R$ 3 bilhões para serem gastos pelos partidos nas eleições de 2020. Já o governo aceita destinar cerca de R$ 1,86 bilhão para este fim. Independentemente do valor, é muito dinheiro para ser gasto com campanhas eleitorais diante de tantas necessidades que o povo brasileiro passa, de tantas privações que temos.

E para que isto? Para garantir uma função pública para alguém. Para garantir a continuidade no poder de alguns. Para manter a estrutura de beneficiados com cargos comissionados nos diversos órgãos públicos.

Mas há quem defenda que tenhamos eleições todos os anos. E a razão não deixar de ser lógica. É que, praticamente sempre, em ano de eleições os municípios “fervem” em obras públicas, em fornecimento de medicamentos, distribuição de materiais escolares, reformas de praças e outros próprios públicos e muitas ações que deixaram de acontecer nos três primeiros anos do mandato.

Os prefeitos e vereadores chegam a alegar que assumiram quando o ente público estava em condições financeiras muito difíceis e administram com austeridade os primeiros anos do mandato e, em meados do terceiro ano, começam a “surgir” recursos e as ações começam a ser executadas até o período pré-eleitoral. Este é o chamado ciclo político tradicional.

Na teoria econômica temos o modelo tradicional oportunista que diz que o único objetivo dos políticos é a maximização de votos através da “manipulação” das políticas públicas fazendo com que ela saia do nível ótimo no início do período para, gradativamente, ir aumentando o seu nível para aumentarem a possibilidade de se elegerem ou de se reelegerem.

Isto não é especulação, é ciência, e devidamente comprovada empiricamente. Este é o chamado modelo oportunista desenvolvido por William D. Nordhaus, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 2018 por seu trabalho sobre mudanças climáticas e inovações tecnológicas. Além do modelo oportunista também tem o modelo partidário e ambos se subdividem em tradicionais ou racionais.

Na realidade, além das obras, outras coisas acontecem em ano de eleição e uma delas é o ressurgimento dos políticos visitando os eleitores e pedindo votos. Isto é um evento que acontece sempre em ano eleitoral e os brasileiros já não se espantam com isto. Em ano eleitoral candidato até pega criança ranhenta no colo e dá beijinho para tentar conquistar os votos dos pais. Vamos torcer para que este modelo mude, mas sabemos muito bem que não será para as próximas eleições.

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