A
sociedade brasileira está entrando numa nova etapa de debates e enfrentamentos
ideológicos e doutrinários. Se já não bastasse as atuais crises econômicas e
políticas existentes teremos que enfrentar uma outra: o embate do funcionalismo
público. Não é segredo para ninguém e, portanto, tal assunto não deve ser
tratado com ressalvas ou como se não existisse.
Na atualidade,
para justificar quaisquer medidas os agentes, políticos ou não, tentam atribuir
a responsabilidade de todas as desgraças ao funcionalismo público. São taxados
de privilegiados, pois a eles são atribuídos altos salários, benefícios
diversos dos trabalhadores que atuam na iniciativa privada, condições especiais
de aposentadoria e reduzida carga de atividade laboral.
De
acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o
rendimento médio nominal do trabalho é de R$ 2.218. Pode até ser considerado um
bom salário para algumas regiões e para algumas pessoas, porém é uma média e na
análise são considerados todos os extratos de trabalhadores.
Não
podemos negar que há uma grande diferença salarial entre os trabalhadores
brasileiros. Segundo dados da Secretaria de Estado da Fazenda do Paraná a
remuneração média dos trabalhadores do Poder Executivo, em meados de 2018, era
de R$ 5.361. Já o salário médio dos servidores do Tribunal de Justiça ficou em
R$ 11.043 e o do Ministério Público em R$ 18.115. Isto sem falar nos salários
médios do funcionalismo do Tribunal de Contas (R$ 22.575) e da Assembleia
Legislativa (R$ 10.114).
É
claro que se estas remunerações forem comparadas diretamente com a renda média
dos trabalhadores apurada pelo IBGE causará muita discussão acerca das
diferenças apontadas, porém há de se considerar todo um processo histórico,
metodológico e político para se chegar a estes níveis. Não é possível
desconsiderar a importante contribuição que o funcionalismo público teve, tem e
continuará tendo para o desenvolvimento da sociedade, portanto o debate não
deve ser fixado focando somente os salários destes como sendo o maior problema
das finanças públicas.
Se
as finanças públicas estão desequilibradas o motivo é muito evidente: foi a má
gestão financeira do ente público no passado que causou estes problemas.
Pode-se, também, atribuir a falta de recursos públicos para se efetuar esta ou
aquela ação, ao volume exagerado de gastos vinculados, aquelas despesas chamadas
de “carimbadas”. Mas não podem considerar única e exclusivamente que o maior ou
único problema são os gastos com salários.
Quando
se fala em gasto público temos que considerar todas as óticas na análise e
muitos agentes consideram somente um lado. É claro que o setor público gasta
muito, proporcionalmente às suas receitas, com folha de pagamento. Muitas
prefeituras chegam a gastar cerca de 50% de suas receitas com salários. O mesmo
acontece com alguns estados. Mas também temos que avaliar os componentes
qualitativos dos gastos públicos.
Por
exemplo: você já parou para refletir sobre o montante de recursos financeiros
que é destinado para as câmaras de vereadores, assembleias legislativas e
Congresso Nacional? Já fez algumas reflexões sobre que tipo de despesas este dinheiro
está financiando? Se estas despesas resultaram em benefício para a sociedade?
É
claro que também temos que cobrar uma maior produtividade do funcionalismo
público, porém não podemos atribuir todas as mazelas das finanças públicas a
estes. Temos que cobrar, de parte do setor público, um serviço eficiente e
eficaz, que atenda às necessidades da população como retribuição dos impostos
pagos pela própria sociedade e que atinja a todos, sem distinções.
0 comentários:
Postar um comentário