A
cada dia que passa novos acontecimentos surgem para demonstrar que nosso país
está longe de encontrar um modelo de gestão político-administrativa que atenda
as necessidades da população de forma eficaz e eficiente. O mantra indicado
neste espaço é de que antes de se discutir a reforma da Previdência se discuta o
pacto federativo e a distribuição de recursos entre os poderes. Pois bem, O
pacto federativo já entrou no assunto.
O
ministro da Economia, Paulo Guedes, indicou a intenção de se acabar com os
gastos obrigatórios nos orçamentos federal, estaduais e municipais, apontando
que a definição dos gastos deva ficar com os representantes políticos. Ele
apresentou tal proposta como uma alternativa de mudança no pacto federativo.
Na
realidade ele verbalizou que a proposta implica em extinguir as vinculações
constitucionais, aquelas que obrigam os governos a efetuarem gastos mínimos com
saúde e educação, deixando a definição de onde e como aplicar os recursos
públicos para vereadores, deputados estaduais e federais e senadores.
Temos
que avaliar a proposta com uma perspectiva mais crítica. Na verdade, em muitos
casos, as vinculações constitucionais são elevadas para muitos municípios e
estados e levam os respectivos gestores a efetuarem desvios de finalidade dos
recursos, embora a saúde e educação estejam sempre presentes nos discursos deles.
Como
estratégia de diálogo e convencimento para aprovação da reforma da Previdência o
ministro apresenta esta proposta que nada mais é do que dizer para os agentes
políticos que eles podem aplicar os recursos públicos de qualquer forma sem se
preocupar com limites mínimos.
Vejamos
o perfil de nossos legisladores municipais, estaduais e federais: muitos deles
possuem capacitação, conhecimento e sensibilidade para tratar destas questões
com a devida responsabilidade. Mas, muitos outros não. E temos um exemplo
recente que podemos inferir como sendo uma amostra do perfil de legisladores
que temos no país: em Goiânia uma diretora de escola foi violentamente agredida
por assessor de um vereador pelo simples fato de que ela tentou impedir que
fixação de uma faixa na fachada da escola. A faixa era um agradecimento ao
vereador. Vejam bem: o vereador mandou fazer uma faixa agradecendo algo a ele
mesmo e enviou seus assessores para fixa-la em frente à escola. Outro absurdo
do cotidiano brasileiro.
O
que Guedes fez foi “entoar o canto da sereia” apontando que com a desvinculação
de recursos vereadores, deputados estaduais e federais e senadores é que
indicarão onde o total da receita deverá ser aplicado. Isto é temerário. As
mudanças sinalizadas como sendo no pacto federativo tratam de questões fiscais
sem a indicação de responsabilidades, que é o tema central que deve ser
debatido.
Em
recente encontro dos governadores dos estados do nordeste foi divulgada uma
carta onde aponta a discordância destes com a proposta de desvinculações de
receitas para as despesas obrigatórias com saúde, educação e fundos
constitucionais.
A
batalha do governo federal para aprovação da reforma da Previdência utilizará
armas mortais para a sociedade no tocante aos investimentos em saúde e educação
e nas políticas de assistência aos mais pobres. E quem está apoiando as
propostas do governo são militantes virtuais que parecem não compreenderem os
rumos que nossa sociedade está tomando.
Enquanto
isto, no mundo real, a população dá mostras de letargia ao não se manifestar
quanto às grandes transformações que estão propondo para nosso país. Só que
depois de aprovadas não vai adiantar mais reclamar, pois daí “as muralhas já
ruíram e os bárbaros já entraram”.
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