domingo, 5 de agosto de 2018

Até quando esperar?



O mercado de trabalho da microrregião de Apucarana foi pouco afetado pelas mudanças ocasionadas na recente reforma trabalhista. O dispositivo do trabalho intermitente praticamente inexiste e as contratações por tempo parcial também são mínimas. O emprego não aumentou significativamente como o governo federal esperava. De janeiro de 2017 a junho de 2018 a microrregião gerou 1.977 novos postos de trabalho. Foram 46.785 contratações contra 44.808 desligamentos no período.

A análise da movimentação no mercado de trabalho formal deve ser feita sob várias perspectivas. Não podemos nos limitar somente às admissões e desligamentos, temos que analisar as características desta movimentação. Quando esta movimentação é analisada sob a perspectiva da faixa etária constatamos que 78,4% das admissões são de pessoas de até 39 anos de idade. Cadê os empregos para os mais experientes?

Já com relação ao nível de escolaridade verifica-se que, no período, 63,3% das admissões foram de pessoas tendo como escolaridade mínima o ensino médio completo. Cadê os empregos para os que possuem menos escolaridade?

Com relação ao salário de contratação, 73,1% das pessoas admitidas tiveram salário de ingresso igual ou inferior a 1,5 salário mínimo. Entretanto das pessoas com escolaridade mínima de ensino médio identificamos que 83,4% foram contratadas com remuneração igual ou superior a 1,5 salário mínimo.

Estes são somente alguns apontamentos de uma gama de informações que podem subsidiar políticas públicas ou mesmo ações conjuntas com a sociedade civil organizada com o intuito de gerar mais empregos e de aumentar a remuneração média real da população.

Nosso país está passando por grandes transformações políticas, sociais e culturais. E por inépcia ou desinteresse de nossa classe política podemos ter “perdido o bonde” e condenado nossa sociedade ao atraso em relação ao resto do mundo. E o que nossos políticos estão fazendo?

A evasão escolar à partir do ensino médio é muito grande e, considerando que os maiores salários são pagos para quem possui escolaridade igual ou superior, podemos considerar que a renda média do trabalhador assalariado não crescerá de forma significativa nos próximos anos. Isto é ruim para toda a sociedade, pois estes trabalhadores terão menor renda e gastarão menos no comércio local, que não terá incentivos para diversificar os produtos oferecidos.

Da mesma forma, a indústria receberá menos pedidos de produção e os produtos produzidos para o mercado local terão padrão de qualidade compatível com os preços baixos a serem praticados por conta da renda da população. São fatores retroalimentadores: um depende do outro.

Como a economia da região não diversifica e cresce pouco há, obviamente, um aumento reduzido do volume de emprego. Com efeito, temos que os jovens de nossa região estão migrando para centros maiores com o objetivo de conseguir empregos e com isto nossa região está “envelhecendo”. Nosso país está chegando ao fim do bônus demográfico. Nossa região também.

Muitas pessoas podem pensar que tais eventos não afetam o conjunto da sociedade, mas isto não é verdade. É claro que afeta. E a sensação que se tem é que nossos representantes políticos não estão preocupados com tais temas. E se estiverem devem ser os principais agentes a capitanear o debate e a busca de soluções para tais problemas, se é que elas existem. Vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais juntamente com a sociedade civil organizada deveriam estar discutindo isto. Mas o que vemos são pautas totalmente desfocadas das necessidades reais da sociedade. Até quando vamos tolerar isto? Até quando esperar?



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