Recentemente, em um curso, uma pessoa afirmou
que o Brasil está se tornando uma África. O contexto da afirmação foi num
debate sobre as condições sociais no país e sua relação com a gestão da
política econômica, mais especificamente a política fiscal.
Não concordo que estejamos nos tornando uma
África. Os indicadores sociais não estão nos níveis desejados, porém as
alterações ocorridas no curto prazo não são suficientes para alardear que nossa
situação está muito grave. De forma mais amena poderíamos dizer que está
inspirando cuidados.
A sensação que temos é de que as desigualdades
sociais não estão diminuindo, pelo contrário, a sensação é de que está
ocorrendo um empobrecimento da população brasileira ocasionada pelo aumento
persistente do desemprego, pela inflação, juros reais elevados, baixo
crescimento econômico e renda bruta estagnada.
De forma pragmática podemos afirmar que nas
condições econômicas atuais é possível que os indicadores sociais possam
piorar, aumentando as desigualdades e o empobrecimento da população e gerando
maior concentração de renda. Se somarmos isto à uma política fiscal irresponsável
de sucessivos déficits públicos, aumento do endividamento e centralização do
planejamento nos executivos federal, estaduais e municipais podemos nos
preocupar sobre a possibilidade de convergência de nossos indicadores sociais aos
níveis africanos.
Uma forma de tentar evitar que isto ocorra pode
ser começada nas eleições deste ano elegendo candidatos que tenham propostas
firmes e claras para reverter esta situação fiscal. Só que dos pré-candidatos
que se colocaram com interesse na presidência da República não conseguimos
identificar propostas consistentes para se reverter o quadro econômico atual.
Consequentemente não conseguirão reverter a tendência de piora dos indicadores
sociais.
Se as pessoas analisarem as entrevistas,
manifestações nas redes sociais e as propostas de políticas sociais que os
pré-candidatos à presidência vêm apresentando, constata-se um grande vazio de
ideias. A maioria deles não apresentam ideias e propostas coerentes e
factíveis. Pelo contrário, as ideias e propostas de alguns deles são
verdadeiros absurdos que poderão piorar o quadro econômico e social de nosso
país.
A administração pública brasileira está passando
por uma grande crise. Além do desajuste fiscal temos uma desesperança acerca
das lideranças que estão se colocando como pré-candidatos. Não conseguimos
identificar propostas de melhora que possam ser postas em prática. Basta
fazermos uma avaliação das promessas dos candidatos que se elegeram nas últimas
eleições. Não cumpriram quase nada. Até porque se tivessem cumprido estaríamos
vivendo num país com indicadores semelhantes aos de países desenvolvidos da Europa.
Os candidatos eleitos presidente da República,
governadores estaduais e prefeitos não conseguiram cumprir quase nada de suas
promessas de campanha porque as finanças públicas estão comprometidas. A
receita é, via de regra, insuficiente para cobrir as despesas, possui um alto
nível de vinculação constitucional, endividamento crescente e forte comprometimento
das receitas com pagamento de salários e encargos.
O cenário não poderia ser pior. Realmente não há
dinheiro suficiente para fazer o que tem que ser feito. Isto sem falar na
ineficiência do setor público. Se não
acertarmos no voto teremos que concordar que podemos, no médio prazo, termos o
agravamento de nossos indicadores sociais. Podemos nos tornar uma África? Se
continuarmos elegendo candidatos que nada fazem de concreto para a sociedade,
acredito que sim.
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