As coisas são como elas são, não devemos falsear
a verdade. Porém, dependendo das lentes com que as pessoas analisam as coisas
alguns vieses podem ocorrer. Estas lentes podem variar de acordo com as
ideologias e culturas das pessoas. Num exemplo atual encontramos grupos de
pessoas comemorando a prisão de um cidadão e outros grupos, pelo contrário,
discordando e lamentando tal fato.
Alguns podem dizer que se tratam das concepções
que se tem sobre algo ou alguma coisa. Mas como é que as pessoas podem ter
convicções diferentes sobre a corrupção? A mesma pergunta deve ser feita com
relação a tudo que existe.
É aceitável e comum que os conceitos de muitas
questões subjetivas variem de acordo com a formação intelectual, cultural e
ideológica, mas existem questões objetivas que não deveriam divergir tanto.
Acredito que todos possuem a concepção de que a economia deva crescer. Porém,
dependendo da lente utilizada para analisar o tema as alternativas propostas
possuirão ferramentas e políticas distintas e, consequentemente, os caminhos
para se chegar ao mesmo objetivo serão diferentes.
Podemos ter o crescimento da economia
sacrificando mais determinados extratos sociais e menos outros. Isto porque,
dependendo das escolhas dos detentores do poder, haverá grupos mais ou menos
beneficiados. Pode-se promover o crescimento da economia com a promoção do
aumento da renda do trabalhador. Mas também é possível fazer isto aumentando os
gastos públicos ou incentivando os empresários através de juros ou carga
tributária reduzidas.
As concepções das coisas dependem das lentes e
das métricas utilizadas para medi-las. Tem empresas que oferecem participações
em seus lucros para os funcionários. Tem empresas que não. Tem trabalhadores
que “vestem a camisa” da empresa em que trabalham, outros não. Tem servidores
públicos que compreendem que devem servir a sociedade, outros não. Tem
professores que dão aulas com qualidade, outros não. Tem médicos que atendem
nos horários agendados e com a atenção necessária, outros não.
As coisas são assim, mas não deveriam ser. A
universidade pública é gratuita, mas tem deputados que acham que deveriam cobrar
mensalidades. Tem gente que acha que os radares de trânsito não deveriam
existir. Realmente as coisas não são simples de se entender.
Devemos enfrentar com muita força e vigor a
falsa compreensão das pessoas acerca das coisas. As decisões de políticas
públicas deveriam ser amplamente debatidas com a sociedade civil organizada de
forma paritária, ou seja, todos os agentes envolvidos devem ter o mesmo peso na
escolha das decisões e estas deveriam buscar a justiça social e não buscar
beneficiar grupos de interesses.
A ausência do debate qualificado e imparcial é
danosa para a sociedade, pois enquanto existir a parcialidade dos detentores do
poder na gestão da coisa pública todo o conjunto da sociedade será prejudicado.
As lentes com que se analisam os eventos podem
até serem diferentes, porém os objetivos das ações e as métricas utilizadas
para avaliação devem ser as mesmas. Já está cristalizado na história da
humanidade que o individualismo e a parcialidade não trazem benefícios, pelo
contrário divide e enfraquece a sociedade.
Nas próximas eleições teremos, mais uma vez, a
oportunidade de mudar nossa história. Só que temos que ter a certeza de que as
lentes e concepções dos candidatos que escolheremos para ganharem nossos votos
realmente são os que eles verbalizam. Já chega de candidatos que falam o que o
povo quer ouvir, mas que agem de forma diferente.
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