Uma reportagem veiculada no
Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite de quarta-feira (04/01/2017) encerra
com a seguinte afirmação de idosos japoneses que se encontram ainda no mercado
de trabalho: “Quem trabalha é jovem. Idoso se diverte!”. A reportagem tem como
título “Idosos enfrentam o desafio de se manter no mercado de trabalho” e, em
seu escopo, traz muitas provocações de reflexões acerca de temas como: mercado
de trabalho, aposentadorias, Previdência Social e qualidade de vida dos idosos.
Que a Previdência necessita
ser reformada não resta dúvidas. Segundo dados do governo federal há déficit na
Previdência, pois os pagamentos superam as receitas, mesmo tendo mais de 55
milhões de trabalhadores formais que contribuem. Acontece que há cerca de 34
milhões de aposentados, pensionistas e detentores de outros benefícios que são
pagos mensalmente com o total das contribuições do pessoal que está na ativa.
Como podem ver a conta não
fecha mesmo. O valor da receita da Previdência, com base nas contribuições do
pessoal que está trabalhando mais a contribuição patronal, não é suficiente
para pagar todos os benefícios necessários. Com isto há o déficit que é coberto
com recursos do orçamento do governo federal e que reduz a possibilidade de
financiar outros serviços públicos e aumentar o nível de investimentos.
Mas a causa disto tudo é do
próprio governo. Não só do atual. Dele e de todos os que o antecederam. Pouco
se preocuparam efetivamente com a melhoria da qualidade de vida do brasileiro.
Se assim tivessem se comportado a renda média real seria maior, o sistema de
previdência teria liquidez, os aposentados teriam uma renda digna que
possibilitaria ele se aposentar com qualidade de vida, nossa economia seria
mais rica e as desigualdades sociais entre pobres e ricos seriam menores.
A reportagem tenta
justificar a necessidade de os idosos terem que ficar mais tempo no mercado de
trabalho para pesar menos sobre a Previdência. Mas na outra ponta não fala que
temos um “exército” de jovens que estão entrando em idade economicamente ativa
e passarão a demandar emprego. É uma conta simples: a taxa bruta de natalidade
em 2015, no Brasil, foi de 14,16 nascimentos por mil habitantes contra uma taxa
bruta de mortalidade de 6,08. Com isto a taxa de crescimento demográfico nacional
é mais elevada do que a de regiões com países de melhor qualidade de vida.
No Brasil as pessoas estão
se aposentando muito jovens, sim. Mas a reforma que estão propondo, além de
reduzir ainda mais o valor médio dos benefícios, esta obrigando as pessoas a se
aposentarem muito mais tarde. Isto é uma injustiça social das mais perversas
com aquelas pessoas que durante muitos anos trabalharam e se esforçaram,
contribuindo para minimizar as patacadas que os agentes políticos fizeram em
nosso país. E quando chega o momento de se aposentarem vem o governo e quer obriga-los
a continuarem no mercado de trabalho para resolver um problema fiscal que o
próprio governo criou. Isto sem falar que o valor dos benefícios ficará longe
dos recebidos quando estavam na ativa.
E o pior de tudo é que
querem comparar nossa situação com a do Japão que possui uma população de
jovens pequena e insuficiente para ocupar as vagas existentes no mercado de
trabalho.
O brasileiro pode e deve
aceitar se aposentar mais tarde, após os 60 anos, mas que esta aposentadoria
seja digna e que o valor do benefício recebido dê conta de garantir qualidade de
vida para ele e para os seus sem necessitar se sujeitar a continuar no mercado
de trabalho até perto de sua morte. Daí sim poderá se afirmar que o idoso brasileiro
se diverte.
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