Mais uma vez está chegando o
fim de ano e novamente uma ideia recorrente nos municípios se repete:
prefeituras querendo trabalhar meio expediente com a justificativa de
economizar recursos para pagar as despesas do encerramento do exercício.
Os fundamentos para isto
ficam em torno da mesma “ladainha” de sempre. Alegam que a arrecadação está
baixa, que os repasses diminuíram, que os preços estão aumentando e que
precisam de dinheiro para pagar o décimo-terceiro.
Esta medida é questionável,
para não dizer absurda. Assemelha-se a cortar o cafezinho nas empresas
privadas. Cortar o cafezinho não vai impactar em nada no caixa da empresa,
assim como trabalhar meio expediente nas prefeituras não deve economizar muita
coisa, também. A folha de pagamento não será alterada com a redução do
expediente, uma vez que o servidor não pode ter redução salarial. Portanto,
alegar que vai se gastar menos energia elétrica, água e material de expediente
e que essa economia vai viabilizar os pagamentos das contas de final de ano é,
no mínimo, muito simplória.
A redução do expediente
implica em ter o serviço público reduzido quase pela metade, uma vez que
algumas atividades essenciais devem permanecer integrais. Com isto ficam as seguintes
perguntas: com a redução da prestação de serviços também vai reduzir a cobrança
dos impostos municipais? Os cidadãos terão redução no IPTU por causa do meio
expediente? Vamos pagar menos para estacionar na Zona Azul? É claro que não.
É sabido por toda a população
brasileira que o país está passando por um período de recessão. Com isto a
economia não cresce e a base de cálculo para a arrecadação de impostos também não
cresce em termos reais. Portanto todas as prefeituras deveriam ter acionado,
desde o ano passado, seus setores de planejamento financeiro, orçamentário e
estratégico para elaborarem ajustes fiscais para adequar as despesas à nova
realidade anunciada da receita.
Isto é básico. A sociedade
não pode aceitar medidas descabidas como esta. Planejamento é a palavra chave e
deve ser utilizada diuturnamente na administração pública.
É claro que a situação não é
linear e muitos municípios terão dificuldades para “fechar as contas” no fim de
ano, mesmo com planejamento. Nesse caso as mudanças não poderão ser
conjunturais, mas estruturais e levará muitos anos para serem resolvidas,
talvez décadas. Mas tem que fazê-las.
Da mesma forma, na
administração pública tem que se avaliar os benefícios sociais versus os custos sociais. Com efeito,
podemos concluir que a redução do atendimento das prefeituras à sociedade não
vai gerar benefícios, mas somente custos sociais. Para que esta proposta venha
a ser viável seria necessária a utilização de uma estratégia muito utilizada na
iniciativa privada, o aumento da produtividade.
Mas o aumento da
produtividade no setor público passa pelo mesmo caminho da melhoria da
qualidade do gasto público. Nenhuma administração vai admitir que precisa
melhorar a produtividade e a qualidade dos gastos. É como se não houvessem
filas de atendimento e demora nos procedimentos. A sociedade precisa continuar
tomando o “cafezinho”, portanto a solução deve ser outra, o planejamento. E já
passou da hora.
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